Poema


No cume da serra,
Nos Alpes da Mantiqueira,
A natureza pincela aurora
No azul celeste,
No verde das matas
No cristalino das águas.
A brisa orvalhada e tépida
Fertiliza a semente.
 A seiva da vida

A         e         B
f                      r
l                      o 
o                     t                                    
r                     a
a                      :
          DELFIM MOREIRA
     - Portal do Sul de Minas -

Borba Gato bateia grotas,
Solos árduos de aurífera presença,
Nas sesmarias do barão Jordão
Agora Descoberto da Soledade.
Descortinando divisas
Os caminhos de Minas
Se unem a São Paulo,
Encurtando distâncias,
Irmanando povos.

A família Costa espia o horizonte que se abre.

Povoados soerguem
Como afagos de existência
Agrupados em vida latente.
Uma casa aqui, outra acolá,
Uma venda de permeio.
A capela se ergue
Para a reza noturna
Ou festiva missa domingueira.
As moças em suspiros e desmaios
- atitude de ensaio –
E incentivo aos pretendentes
Na estala do fumo
Ou apanha do café
Aguardam festas juninas,
Apegadas a Santo Antonio,
Sem desmerecer São João e São Pedro.
No olhar um convite,
Nas mãos um aceno,
Que a vida – para ser bem vivida –
Melhor que seja dividida.
O rapaz se insinua, decidido
A ser o escolhido.
Namoro, noivado, marido.
Pegar na mão, aliança, compromisso.

Sem essa de ficar, amizade colorida,
Produção independente,
Que o pai, inteirado do assunto,
Punha o atrevido pra correr.
Quando não de pé-junto.

O cheiro do Cravo
Nas contas do Rosário
De São Francisco.
A Barra do horizonte
Contrapõe a Barreira
De um Sertão Pequeno
Banhado em Água Limpa
Do Rio Claro
Ao Taquaral
Em Cachoeirinha.
O olhar se dilata
Nos altos da Boa Vista,
Donde se concentra
Na Serra Bonita
Uma Ponte de Zinco
Cobre o Rio Comprido
Das nascentes do Charco e Boa Esperança,
Contorna o Brumado,
Dá um Salto ao Biguá
E se distancia nos longes do Mogiano
Como uma prece a São Bernardo.

Barreirinho
- Verde Vale de rendas brancas –
Onde Vó Francisca aconchegava
Américos, Pintos, Santanas, Cor de Rosas,
Amparando nas mãos o sopro de vida
- Santo ofício de parteira e benzedeira –
Cesariana???!!! Cruz-credo! Inexistia.
Nas mãos abençoadas
A vida corria farta
E o primor artesanal de rendas abrolhos.                 
Se multiplicava em outras paragens.

Vai, Donato, acolhe o anseio deste povo.
E faz o vereador Dirceu
Multiplicador de ideais.

Ei, boi, eia boiada,
Zé Dica no rabo do arado
Carreia sulcos no grosso do chão
Mãos calejadas no cabo da enxada
Alisam o desenho da estrada.
 Do Barreirinho se chega aos Perus
E ao Mosteiro de Santa Maria de Serra Clara
Dito Ferreira estende as mãos em ato solidário
Outras mãos se agrupam
Pela sublimidade da causa
- único Mosteiro rural contemplativo da América Latina –
Em cujo ventre abrigava
Os abnegados: Dom Celestino - célula mater –
Gerando Dom Bento Gomes, Dom Mauro,
E os monges professos: Antonio e Emanuel
E o douto Hélio Silva – maior escritor político do Brasil -,
De postulância monástica – Dom Lucas.
Cuja essência, incrédula,
Pela insensibilidade política,
Agoniza em extinção. 

Padre Leo, em celestial presença, desdenha o Encardido.

Entre peras, marmelos, ameixas,
O leite nosso de cada dia,
Araucárias, cedros, candeias
Culturas tantas:
            Os Costas, os Siqueiras, o Assis,
            Os Ferreiras, os Alves, os Alkmins,
            Os Couras, os Macaíbas, os Silvas,
            Os Ribeiros, os Souzas, os Fortes
E mais famílias se irmanando
No lume da fé e esperança,
Na lida, na peleja,
No suor dos corpos,
Nos calos das mãos
Na poeira dos passos,
Na aspereza dos caminhos percorridos
E vencidos
Em estrada batida de frio, de chuva, de sol.
Geada, barro e poeira.
*

Os caminhos do Sul de Minas conduzem a Delfim Moreira.

Se achegue, amigo Bilac,
No banco da Praça da Igreja
Descanse sua pressa, sossegue sua urgência,
Aspire fundo, espiando a natureza em derredor.
Está tudo Azulzinho em sua frente.
Se houver um palpite de fome, o Lanza fica próximo
Na especialidade da Pizza à moda mineira.
Na padaria do Eduardo o café fumega
E o pão acaba de sair do Forno.
Ou a mercearia do Tiãozinho Ferreira, pois o Paulinho acaba de chegar
Com o leite tirado na hora.
Daqui a pouco, o Padre Arlindo, realizado o ofício da Missa,
Virá para uma prosa salutar.
Se o sino tocar fúnebre, o cemitério é logo acima.
- no interior, cemitério é sempre no alto -
Para as almas usufruírem a proximidade de Deus

O prefeito Dalmo logo aparece, na sua sapiência mineira.
Enquanto suaviza a ausência dos  filhos Dárcio e juninho
Ancorado nos braços da filha Elisa.

A Teresa Bibiane em sua faina diária.
Logo a Tuti arregaçando as mangas.
A Lúcia do Roberto se desdobrando na lida,
A Caíca na matemática contábil,
A Heloisa Helena, na prática cartorial,
A Cida do Zelão  em soberba tarefa,
Enquanto a Ana do Carmelo
E a Eliana do Pedrão
 Esmeram a lição do dia-a-dia
Que a juventude absorve e se frutifica.
Ah, as mulheres! essas mulheres,
Múltiplas.

Se o Pedrão – lealdade pura - sair na varanda
Estique a conversa, vale a pena.
Também, sobrinho do Vavá e do Boi,
Tem por quem puxar.
E lá vem o Carmelo - aura positiva –
Um banho de otimismo e bem estar.
O Paulinho Alves foi cuidar de suas trutas.
O Marcos Carijó em sua elasticidade atlética
Na geometria da bola,
Enquanto o Zé Galinha prepara o café
Que o dia promete ser longo.
 Portas abertas, o hotel do Catarino oferece pouso.
Carlos Rogério e Getúlio
Cunham a pedra fundamental da Rogê.

Moço, se der sorte, talvez o Zé Leminho apareça
Com o coração dividido entre Delfim Moreira e Virgínia.
Pois sabe que seu coração agüenta dois amores:
 Doutor Sebastião confirma o diagnóstico.
 *
De repente a vida se fez breve...

O Dito Assis antecipou sua viagem,
Pois os justos merecem conviver com os anjos.
O Pedrinho Forte e dona Carolina aceitam o convite
E o Zé Gil e a dona Teresa fazem coro
Ausentando-se do Barreiro,
Com uma advertência ao Pelé e ao Florisval.
A Maristela do Galhardo
Deixa a merenda da cantina da escola
Por fazer.
O Zé Garpinha Américo surpreende,
Pois a vida ainda era uma promessa
A ser realizada.
E os olhos dos filhos, postos na curva da estrada,
 Aguardam... aguardam... aguardam...

Nos céus de Delfim Moreira paira o aceno do Abelha,
Em ecos de saudade do Dola.
A vida terrena era pouca para tanta dedicação.
                        *
 Mãos da padroeira Nossa Senhora da Soledade semeando bênçãos.

            A noite estende seu manto de silencio
E acalenta o sono merecido.
Outra manhã virá
Nos matizes da aurora, no romper do sol.
            O sangue pulsa,
            O coração palpita,
            A vida estremece e aquece
            Os ideais Delfinenses.

                        Parabéns, Delfim Moreira, pela longevidade dos 308 anos de existência. neste 17/12/2010.
Homenagem da Cachoeira Ninho da Águia e do Jornal O Sul de Minas
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                                                Autor: Benedicto Silvério – Pitiola -
- Poeta, Escritor -